O papel da mulher na SST, dia internacional da mulher
O papel da mulher na SST, dia internacional da mulher
“Não é a toa que a peça mais forte
do tabuleiro de xadrez é a Dama”
A força das mulheres na
transformação do mundo moderno, tal como conhecemos hoje, é subnotificada,
infelizmente, em muitas esferas do conhecimento. Com a Saúde e Segurança do
Trabalho (SST) não é diferente.
Quando dei meus primeiros
passos nesse incrível campo do conhecimento tive no SENAC Jabaquara uma
coordenadora extraordinária (Leila) que identificou em mim um potencial que até
então eu mesmo não conhecia e me ajudou a guiar meus primeiros passos pela área,
agradeço muito por isso e acho uma pena que o posto atualmente não seja tão bem
ocupado.
Hoje, quando tenho a
oportunidade de ocupar a posição de professor sempre passo aos meus alunos quão
agradecido devemos ser pela participação feminina na evolução da segurança do
trabalho.
Não fosse por vocês (elas)
nós possivelmente ainda estaríamos sujos de carvão em turnos de 16 horas por dia
ou mesmo viver sem ver a luz do sol, como era o caso de alguns mineradores. Mas
você sabe por quê?
Bem, em materiais acadêmicos
e treinamentos é comum falar de Ramazzini e outros pioneiros da SST, mas foi lá
na Revolução Industrial que tudo para nossa área começou a tomar a direção que seguimos
hoje e foi graças às mulheres.
Isso porque com o aumento
de demanda de mão de obra os industriários da época passaram a se valer de mão
de obra de mulheres e crianças, mas em situações tão precárias que levou as
mulheres a se movimentar contra essas condições.
Lá por meados de 1800, na
Inglaterra, onde nasceu a Revolução Industrial, o movimento de empregados(as) das
fábricas de algodão foi liderado por mulheres da indústria têxtil, que exigiram
melhores condições de trabalho, numa luta sem qualquer perspectiva de sucesso,
mas que levou o governo britânico, somente em 1833, a aprovar a chamada Lei das
Fábricas.
Este foi aquele momento
fundamental, o que gosto de pensar como o real “big bang” da SST, um pequeno
passo para aquelas trabalhadoras (e trabalhadores), mas um salto gigantesco
para a SST, pois essa lei exigia que houvessem inspeções de saúde e segurança
nas fábricas têxteis.
Isso mesmo! Hoje nosso
hábito em falar de inspeções e verificação de segurança, as ações mais
fundamentais para criar nossos principais programas de gerenciamento de risco
teve seu berço aqui e é a liderança delas que devemos relembrar para tal.
Nos Estados Unidos, no
final do século XIX, na mesma atividade econômica foi a liderança de mulheres
que em uma greve de aproximadamente 13 semanas, conhecida como “Greve das
Camisas Brancas”, que exigia melhores condições de trabalho e melhores
salários, que levou o país a criação de leis de SST.
Até em tempos de grandes
crises e incertezas nós contamos com a força feminina, muitas vezes menosprezada
pela brutalidade da comparação com a força masculina, como por exemplo na primeira
guerra mundial, quando mulheres foram chamadas a trabalhar nas fábricas, num
movimento muito singular que hoje você conhecer com “I Can Do It”.
Lembrando que nessa época
acreditava-se que elas não seriam capazes de ocupar postos tradicionalmente
masculinos, mas a necessidade abriu a oportunidade e, não poderia ser diferente,
elas deram conta e muito bem!
Ao longo do século XX
vimos inúmeras outras amostras da importância das mulheres para o direito do
trabalho e para a segurança do trabalho, como lideranças femininas em
organizações criadas para apoiar a luta por melhores condições de trabalho.
Na década de 1960, por exemplo,
o Conselho Nacional para a Segurança e Saúde Ocupacional (National Council for Occupational
Safety and Health), nos Estados Unidos foi liderado por elas, novamente impulsionando
exigências de melhorias de condições para todos nós.
No Brasil não foi
diferente, durante o regime militar foram as trabalhadoras que organizaram-se em
sindicatos e movimentos sociais para lutar por melhores condições de trabalho,
especialmente na época mais sombria para a SST no Brasil, o "milagre
econômico".
Nos anos 1970/80 foi a participação delas que fez a
SST ganhar ainda mais impulso, com exigências de melhores condições em jornadas
menores e mais seguras, além de outras medidas de prevenção contra acidentes e
doenças ocupacionais.
Em 1983 outro grande passo
foi a Comissão Nacional Tripartite Temática (CNTT), sobre segurança e saúde no
trabalho da mulher, reuniu representantes do governo, dos empregadores e
empregados para discutir avanços em medidas específicas para a proteção da mulher
nos ambientes de trabalho.
A garra feminina não
encontra limites e com toda certeza, como falamos antes, não haveria a SST tal
como conhecemos hoje não fosse por elas, por isso, nesse dia 8 de março é mais
do que justo nós reconhecermos isso, além de desejar um feliz dia das mulheres.
Eu dedico esse texto a minha Fran, a quem espero que o mundo (da sua vida adulta) esteja preparado para sua força e gentileza. 💓
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Referências
Artigo "Trabalho, gênero e saúde no Brasil: contribuições de um olhar feminista" de Luciana de Oliveira Ramos e Lia Giraldo da Silva Augusto.
Artigo "Mulheres no mundo do trabalho: evolução e perspectivas no Brasil" de Helena Hirata.
Artigo "Política nacional de segurança e saúde no trabalho no Brasil" de Sergio A. R. Oliveira e Maria L. C. Vieira.
"Feminism and Occupational Health and
Safety" da revista New Solutions: A Journal of Environmental and
Occupational Health Policy.
Livro "As Mulheres e o Trabalho no Brasil" de Angela de Castro Gomes.
Página oficial do Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil sobre segurança do trabalho e saúde ocupacional.
"The Role of Women in the Workplace
Safety Movement" da Health and Safety Executive (HSE).
"The Power of Women Workers' Leadership
in Health and Safety" do National Council for Occupational Safety and
Health (NCOSH).
"Women and Work" do Trades Union
Congress (TUC).
"Women and Health and Safety" da International Labour Organization (ILO).
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