Benefícios da Higiene Ocupacional

 Benefícios da Higiene Ocupacional

"O vento, venta; o passarinho, passarinha; e você o quê?" Clovis de Barros Filho.


Contextualizando.

    Marcelo sempre foi um cara animado, um desenhista nato que fazia caricaturas divertidas e muito boas na verdade. Hoje é um pai amoroso e um marido dedicado, mas não nos últimos meses.

    Todo dia é igual para Marcelo, ele se levanta de manhã, come pouco, corre para não perder um ônibus apertado, chega no trabalho, se troca, bate o ponto e o resto do dia a única coisa que retumba em sua cabeça é "pintura homogênea".

    Uns meses depois que começou a trabalhar na cabine parou de ser tão comunicativo, coça muito os olhos e resmunga irritado e ofegante quando há falhas na pintura.

    As dores de cabeça tiraram sua vontade de fazer piadas, a vista embaçada levou a beleza da vida e essa sensação de queimação... ela não para nunca!

    A comida não tem mais gosto, o café não têm mais cheiro e não fosse a tontura que sente a vontade de gritar seria um alívio para sua garganta que "queima", se parar.

    Não que alguém tinha perguntado antes, mas ao ouvir isso o rapaz novo, o dos EPI, filho de um antigo vizinho de Marcelo, o que ele pintou a parede da garagem na procissão, a uns anos, agora estava querendo dar mais dor de cabeça ainda para ele.

    Isso porque o garoto falou para os encarregado sobre instalar na cabine uma cachoeira, como se o barulho da água fosse deixar a pintura mais homogênea e tem mais, ele agora tem que usar essa máscara de filme de guerra, ora bolas!

    Não agradava em nada toda aquela mudança, mas ele teve que aceitar e na verdade não se queixou mais porque não queria falar.

    É engraçado, mas com o tempo e as visitas do garoto na cabine, talvez esse som de água caindo, ele não sabe, mas tudo começou a ficar mais nítido, a vontade de falar voltou, o serviço ficou mais fácil e agora ele quer voltar a desenhar.

    Marcelo não faz ideia porque esteve tanto tempo fechado ao mundo, mas agora tudo tem cor e sabor e ele agora até começou a fazer aulas de canto.


Introdução.

    Falar sobre os benefícios da higiene ocupacional, especialmente se você é um prevencionista parece uma coisa óbvia, afinal há normas a serem seguidas e isso não é negociável. Mas refletindo um pouco mais e com uma boa dose de empatia dá para entender porque a história acima não faz sentido, para alguns.

   O fato é que trabalhos devem ser feitos, metas devem ser alcançadas e uma empresa precisa se manter competitiva para sobreviver ao mercado. 

   Some isso a outro fato, que é o de muitas vezes a Higiene Ocupacional não ser corretamente compreendida, parecer só mais um "laudo" a ser pago, e você irá entender porque algumas pessoas e sistemas simplesmente insistem em não entender a importância dessa ciência.

   Com certeza não agrada meus colegas, mas há uma meia culpa nessa percepção e ela com toda certeza é nossa! Afinal se um profissional é um prevencionista ele também é um educador, um comunicador e como tal deve saber passar a mensagem correta para seu público.

    E não se engane, isso é sim uma tarefa difícil! Pessoas são únicas e pensam diferente, mesmo em um mesmo campo profissional e comunicação não é uma questão de dom ou sabedoria, mas sim exercício. Além disso há sempre como ser melhor e algo a aprender.

   Claro que, como demonstrado na contextualização, podemos proteger os trabalhadores dos riscos ocupacionais sem eles sequer entenderem exatamente como; mas aqui fica um alerta: Não há participação sem explicação, sem compreensão; e sem isso como pode haver valorização?

 

Conceito. Benefícios.

  Já vimos o que é Higiene Ocupacional, seu contexto, alguns dos principais conceitos e como identificar, inventariar, analisar e controlar riscos, por meio de programas bem estruturados, que é parte integrante do todo dessa importante parte da Saúde e Segurança do Trabalho (SST).

  Agora precisamos conhecer e refletir sobre seus benefícios. Claro que sendo a Higiene Ocupacional tão estratégica dentro da SST não há como falar de uma sem pensar na outra, então podemos desenvolver nosso raciocínio, aqui, pensando nas duas.

   Sempre que pensamos no que chamamos de benefícios, em gerenciar riscos ocupacionais, não há como deixar de pensar também na missão do prevencionista, que é basicamente unir esforços para que o trabalhador volte para casa com a mesma (exata) saúde que veio trabalhar, todos os dias.

    Isso significa que não devemos permitir que seja o ambiente de trabalho o responsável por tornar a vida do trabalhador menos valiosa do que ela é. E com toda certeza o gerenciamento de riscos é importante etapa no processo.

   Parece bem óbvio, mas há uma conexão a ser feita aqui: O trabalhador trabalha para sustentar (custear) sua vida, o empregador existe pela atividade econômica da empresa, pelo mercado de seu nicho, pela prosperidade do negócio, pelo seu crescimento no mercado de atuação.

   Observando bem você percebe que há, então, dois lados de uma mesma moeda. De um lado o trabalhador e seu sustento, do outro a organização e sua luta pela competitividade no mercado, pelo crescimento que representa sua sobrevivência.

    Então, nossa missão também tem dois lados. O primeiro, já apresentado, e com certeza o mais nobre, o de proteger o trabalhador. O segundo o de viabilizar a atividade econômica, permitir que a empresa siga atuante e competitiva, sem desvios de qualidade ou perdas de recursos (incluindo o humano).

     Não encare de forma errada o que dizemos aqui, isso é de fato uma provocação, um convite para que você rasgue o véu e compreenda que há dois lados que devem coexistir em harmonia e exatamente por isso listamos benefícios para ambos.


Benefícios da Higiene Ocupacional para os trabalhadores:

1. Proteção da sua integridade física, que pelas medidas preventivas, desde as coletivas às individuais (EPI), organização de trabalho, manutenção de ambientes, máquinas e equipamentos visam a proteção física e psicológica do trabalhador. 

2. Prevenção de doenças ocupacionais, pelas mesmas medidas de prevenção de engenharia, controles e acompanhamento médico, que ajudam a impedir que o meio ambiente do trabalho ou atividades nele executadas adoeçam ou  piorem o quadro de saúde do trabalhador.

3. Melhoria do ambiente de trabalho, por práticas de higiene ocupacional e outras de SST que melhoram a zeladoria do ambiente, sua manutenção e limpeza, ventilação e climatização que contribuem para que ele se torne mais agradável e confortável.

4. Maior satisfação dos trabalhadores, que participam ativamente de diferentes fases da gestão de riscos ocupacionais, sendo ouvidos e ensinados sobre a dedicação e esforço para que sua permanência no ambiente laboral seja a melhor e mais segura possível.

5. Melhoria da qualidade de vida, a joia da coroa da SST é que o trabalhador esteja seguro, saudável e tenha um ambiente que permita que sua qualidade de vida consideravelmente melhore naquele ambiente de forma perceptível, frente a outros cenários e ambientes de trabalho.

     Claro que não há medida de segurança que elimine os desafios específicos de cada profissão ou atividade econômica, mas a chamada "melhoria contínua", que é uma das base da SST elevará o nível do ambiente de trabalho ao ponto aqui abordado. Você já ouviu a expressão "dá pra comer no chão dessa fábrica"? É disso que se trata.


Benefícios da Higiene Ocupacional para as empresas:

1. Cumprimento da legislação em vigor, que listado como um benefício simplesmente por evitar perdas econômicas desnecessárias para as empresas, que cumprindo suas obrigações não sofrem todos os efeitos jurídicos (civil e penal) que acompanha a desobediência do rigor da lei.

2. Redução de absenteísmo, pois pela prevenção de doenças e lesões relacionadas ao trabalho há a redução da ausência dos trabalhadores no ambiente produtivo, gerando melhores resultados.

3. Redução de custos, posto que práticas de prevenção significam controles de processos e também representam diminuição de "desvios de qualidade", de perdas materiais pela redução de incidentes que a prevenção de acidentes traz consigo. Custos de produção, processos, fiscalização, entre outros são outros frutos.

4. Melhoria da imagem da empresa, aqui nos referimos a imagem interna e externa, pois não adianta figurar na lista "X" de melhores empresas para trabalhar se seu público interno vive uma condição diferente e carrega consigo uma reputação diferente a vernizes forçados na mídia.

 5. Aumento da motivação, que é o grande prêmio que uma empresa pode conseguir, o verdadeiro engajamento pelo orgulho de trabalhar para ela, cujos valores vão além do papel e se tornam diferenciais reais para sua boa imagem. Isso sem falar que equipes produtivas geram m mais resultados.

   Note que esses benefícios podem ser vistos como um ciclo virtuoso, que sustentados por outros fatores, como gestão adequada, planejamento, humanização, entre outros de cunho administrativo que vão além da SST tornam a empresa uma referência de mercado, um modelo a ser seguido.

  Na ISO 45001, uma normalização internacional referência em gestão de saúde e segurança ocupacional, que aponta diretrizes e estabelece requisitos nessa área apresenta os mesmos benefícios, ordenados a apresentados mais ou menos da seguinte forma:

    • Prevenção de acidentes e doenças ocupacionais;
    • Cumprimento da legislação no país ou território;
    • Melhorias de produtividade;
    • Incremento na Imagem e reputação da organização;
    • Redução de custos e retrabalhos;
    • Melhoria na comunicação interna;
    • Incentivo à melhoria contínua.

    Vale a leitura da NBR ISO 45001 para conhecer melhor cada um dos benefícios, que embora não estejam organizados  como apresentamos aqui estão presentes ao longo do texto da norma que é muito convincente ao tratar sobre os "benefícios de desempenho de SSO".

    Consideramos que seja o não prevencionista todo profissional que se conscientizar do real papel da higiene ocupacional em uma organização, como diferencial estratégico para que possa colher os frutos de cada benefício aqui listados é fundamental.

    Assim passamos a ter uma visão mais holística da área a enxergando como investimento e não apenas custos, da parte do empregador; e como direito e não apenas deveres, da parte dos trabalhadores de modo que haja harmonização nessa relação de emprego e que o engajamento ao tema propicie melhoria contínua nas condições dos ambientes de trabalho.


Gostou desse conteúdo? 👍 Compartilhe em suas redes sociais de preferência! 📢 

Comente suas impressões! Converse conosco, se tiver dúvidas ou dificuldades sobre o tema. 😉👂

Seu feedback, construtivo, é muito bem vindo e ajuda a todos a crescer. 😍 

Fazendo isso você incentiva nossa equipe a continuar produzindo e aumenta a relevância da divulgação de  conteúdo prevencionista no cenário brasileiro. 💪😎


Referências.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Tradução da ISO 45001:2018, Sistemas de gestão de saúde e segurança ocupacional - Requisitos com orientação para uso., 1ª edição, Rio de Janeiro 2018.

BARSANO, Paulo Roberto Higiene e segurança do trabalho / Paulo Roberto Barsano, Rildo Pereira Barbosa, -- 1. ed. -- São Paulo: Érica, 2014.

BRASIL, Portaria 3214 de 08 de junho de 1978, Norma Regulamentadora 01, atualizada em 09 de março de 2020, Ministério da Economia, DOU de 12/03/2020 - Seção 1 – Brasília, 2020.

RIBEIRO NETO, João Batista M. Sistemas de gestão integrados: qualidade, meio ambiente, responsabilidade social, segurança e saúde no trabalho / João Batista M Ribeiro Neto, José da Cunha Tavares, Silvana Carvalho Hoffmann - 5ª Edição rev. – São Paulo: Editora Senac. São Paulo 2017.



    

 

 

  

   

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O que faz o engenheiro de segurança do trabalho?

O que faz o enfermeiro do trabalho?

EPI podem causar acidentes?