Shisa Kanko.

Shisa Kanko.


"Yoshi!" Toyota

Contextualizando

O painel da máquina tinha mais de uma dúzia de botões, todos coloridos e cheio de sinalizações visuais que pioravam ainda mais com todo aquele vai e vem de pessoas e produtos.

Era a primeira semana de trabalho de Carlos, "como vou não esquecer de nada?" pensava ansioso olhando um oceano de informações visuais, configurações, etapas, procedimentos e metas de produção. Tudo familiar, mas ao mesmo tempo tão diferente do curso profissionalizante.

"Eu não vou conseguir me manter focado e não esquecer de nada com tanta coisa acontecendo, como os outros fazem para manter tanto o foco?" se perguntava enquanto assistia seus colegas fazendo rápidos movimentos, apontando e falando com mas máquinas, o tempo todo.

"Calma Carlos", aqui nós temos uma maneira de reduzir em até 84% as chances de erro humano, disse seu supervisor, dando um tapinha em seu ombro, fazendo pose de herói de anime e apontando para frente, "Vamos ensinar para você o que é e como aplicar o Shisa Kanko, YOSHI! "


O que é Shisa Kanko?


Como prevencionistas, estamos constantemente em busca de melhorias em nossos métodos e processos para promover segurança e qualidade nos processos produtivos.

Implementamos práticas como o famoso 5S e TPM, que visam promover uma cultura comportamental mais focada no que realmente importa.

No entanto, existe outra metodologia que pode nos auxiliar nessa proposta prevencionista e de qualidade: o Shisa Kanko.

O Shisa Kanko, ou "apontar e falar", é uma técnica desenvolvida por um engenheiro de locomotiva chamado Yasoichi Hori, no início do século XX.

Ele usou gestos para sinalizar o que precisava ser feito ao bombeiro que o auxiliava, para evitar dúvidas e reduzir o risco de erros.

A técnica consiste em apontar para um objeto e dizer em voz alta o que está sendo feito ou o que precisa ser feito.

Esse é um exercício simples, mas que tem se mostrado muito poderoso, desde a sua criação, na redução estatística de erro humano. 

Isso acontece principalmente porque áreas diferentes do seu cérebro são acionadas durante a aplicação da técnica, fazendo com que a sua atenção seja inteiramente voltada para a atividade ou ponto de atenção que está sendo tomado como foco.

Na figura abaixo dois slides do nosso treinamento desenvolvido para empresas que se interessam pela técnica, onde explicamos melhor como a neurofisiologia se relacionada com a técnica:




Como dito, quando usamos a técnica ativamos diferentes áreas do nosso cérebro, "acendendo mais luzes internas" e melhorando nossa capacidade de nos concentrar/executar uma determinada tarefa de interesse, com maior precisão. 

Como funciona?


Isso porque o foco visual, o movimento muscular ao apontar, a verbalização e até mesmo nos escutarmos irá ativar nosso sistema nervoso, mais ou menos da seguinte maneira:

  • Atenção seletiva: a técnica cria um estímulo num ponto específico, levando seu cérebro a ignorar outros pontos irrelevantes de atenção naquele momento, ativando assim sua habilidade de selecionar e focar nesse estímulo, o "ato" de olhar, apontar e falar. Essa atenção seletiva é controlada pelo córtex pré-frontal e é fundamental para a precisão e eficiência da tarefa.
  • Sistema motor: apontar com o dedo (movimento voluntário) e falar em voz alta ativa nosso sistema motor, de várias áreas do cérebro, incluindo o córtex motor, o  que ajuda a melhorar ainda mais a concentração.
  • Memória de trabalho: uma das funções cognitivas de maior importância do cérebro para realização de tarefas e cumprimento de protocolos, ao aplicar a técnica também utilizamos nosso córtex pré-frontal, estimulando nossa memória do que estamos fazendo, melhorando nossa capacidade de lembrar informações relevantes envolvidas na execução daquela tarefa.
  • Sistema nervoso autônomo: a aplicação da técnica pode ajudar a extravasar o estresse e a ansiedade que podem estar associadas a uma atividade perigosa, por exemplo. Quando ativamos nosso sistema motor e memória de trabalho também estimulamos o sistema nervoso autônimo simpático ("luta ou fuga") e parassimpático ("relaxamento) o que tende a melhorar o desempenho da atividade. 

Um estudo, na Universidade de Caen, na França, com 249 estudantes demonstrou que aqueles que estudaram ouvindo musica clássica tiveram um desempenho médio de 12% melhor em suas provas de matemática.  

Há estudos recentes, em países como China, Canadá e Japão que indicam que este método pode reduzir em até 84% os erros por desatenção ou lapso de memória, bastando haver a prática correta do Shisa Kanko.

Pesquisas da Railway Technical Research Institute mostram que essa prática reduz em quase 70% o risco de erros nas rotinas diárias dos trabalhadores.

Se você trabalha com máquinas e equipamentos, ou em qualquer ambiente onde a segurança é uma preocupação constante, vale a pena considerar a implementação do Shisa Kanko.

Essa técnica simples e eficaz pode ajudar a melhorar a qualidade e segurança em seus processos produtivos, posto que auxilia (e MUITO!) a evitar o risco de erros operacionais.

Portanto, colegas prevencionistas, além de implementar práticas como o 5S e TPM, vale a pena considerar o Shisa Kanko como uma metodologia adicional para promover uma cultura comportamental mais focada na segurança e qualidade nos processos produtivos.



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Referências e indicações de leitura:


HUGHES, Chris. Kaizen Coaching: From the Inside Out. United States: iUniverse, 2014.

IMAMURA, Shigeo. Kaizen Workshops for Lean Healthcare. New York: CRC Press, 2013.

KATO, Hiroyuki. Toyota Kaizen Methods: Six Steps to Improvement. New York: CRC Press, 2012.

 LAREAU, Robert T. Kaizen Assembly: Designing, Constructing, and Managing a                                   Lean Assembly Line. United States: CRC Press, 2006.


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