EPI podem causar acidentes?

 EPI Podem causar Acidentes?




Dentro da hierarquia prevencionista equipamentos de proteção individual (EPI) são bastante polêmicos no sentido que eles são a ultima (e muitas vezes paliativas) medidas de proteção aos trabalhadores, enquanto os riscos ocupacionais não são controlados de outro modo.

 Os equipamentos de proteção individual são projetados para salvaguardar os trabalhadores, isso quando os perigos (fontes) são identificados e os riscos inventariados corretamente, tendo cada característica preliminarmente conhecida e seus efeitos rejeitados (pelo EPI).

 O problema é que isso só ocorre em situações específicas, posto que determinados fatores devem ser considerados quanto ao uso do equipamento, de modo que eventuais variações nessas condições podem prejudicar a eficiência do EPI, prejudicando seu desempenho.

 Como modelo de situação você pode imaginar que um trabalhador usando um casquete (com determinada resistência mecânica) acredita estar seguro utilizando ele em um ambiente onde possa haver quedas de ferramentas.

 Eis a grande importância de recomendar o equipamento de proteção somente após tem conhecimento, tanto quanto possível, do risco que deve-se negar efeitos. Isso, claro depois de outras medidas hierárquicas serem consideradas e a mitigação do risco ser mensurada.

  Então o primeiro passo para toda indicação de EPI é: Conheça o risco, tanto quanto possível!


  Superada essa importante fase . . .


Então como os equipamentos de proteção individual podem gerar acidentes?

  É uma interessante pergunta e com duas possibilidades possíveis, uma delas tão intrigante que me levou a refletir por um tempo, pesquisar e escrever este artigo, vamos a elas.

 A primeira possibilidade é mais prática e objetiva, podemos chamar de tangível, pois ela está associada diretamente com o equipamento em si e o trinômio “guarda, uso, conservação” apontado pela NR 06 do Ministério do Trabalho. Listamos:

  •  Uso inadequado: não utilizar o equipamento de proteção conforme orientações dos profissionais de segurança e/ou instruções do fabricante tendem a resultar numa ineficiência do EPI que pode gerar acidentes, até mesmo graves.

Imagine que você usa protetores auriculares de plug, mas sempre esquece de colocá-los antes de se expor ao ambiente ruidoso, o que pode manter a pressão anormal do ar dentro dos seus ouvidos, gerando incômodos e até mesmo prejudicar sua audição.

  • Incorretamente ajustados: não sendo corretamente ajustados eles podem não oferecer a proteção necessária, cumprindo o fim a que se destinam, podendo até mesmo representar um risco adicional ao trabalhador.

Imagine que você está utilizando um calçado de proteção grande demais para seu pé, um cinto paraquedista frouxo ou um capacete que não cabe na sua cabeça e fique caindo sobre seus olhos. Entende como isso pode gerar acidentes?

  • Sem uma correta conservação ou manutenção: EPI que não é criteriosamente cuidado, preventivamente (quanto sua conservação) ou reativamente (quanto sua manutenção) deixam de fornecer a proteção necessária, se tornando mais um acessório de moda do que um equipamento de proteção.

Imagine que seu colega de trabalho não guarda corretamente seus óculos de proteção, gerando riscos e trincas na armação e lentes, prejudicando a fixação desse e campo de visão ao usá-los enquanto opera um guindaste ou uma empilhadeira em um supermercado.

  • Escolha inadequada: embora tenhamos falado em nossa introdução sobre isso, é correto reforçar que EPI deve ser escolhidos de acordo com os riscos cujo efeito indesejado ele irá negar, do contrário não garante proteção alguma.

Imagine um profissional de radiologia usar um avental de raspa em vez de um avental plumbífero (de cumbo) ou um servente de obras se proteger contra riscos mecânicos com luvas isolantes de borracha casse 2.

  • Equipamentos Falsificados: Infelizmente a irresponsabilidades de muitas empresas, no cenário internacional, está aí, jogando no mercado fantasias de carnaval com nome de “PPE” (ou EPI). O grande problema desses itens é que são feitos com materiais e técnicas inferiores, sem nenhuma preocupação de para que fim se destinam.

Você toma entrar numa batalha medieval, contra um cavaleiro de espada e armadura reais, só que utilizando uma fantasia de espuma e papelão? Então por que utilizaria EPI sem CA?

 A segunda possibilidade ou resposta, já que ambas não concorrem, mas sim podem se acumular para responder como EPI podem gerar acidentes, é muito menos intuitiva (para muitos) do que constatarmos houve uma escolha errada, testemunharmos um uso inadequado ou observamos falta de cuidado e/ou de manutenção, pois ela está no campo das ideias (como diria Platão).

 Que os EPI são fundamentais para a saúde e segurança do trabalho (SST) é ponto pacífico, afinal mesmo sendo o último dos últimos na hierarquia de segurança ele é muitas vezes tomado como o símbolo da segurança do trabalho. Você consegue ver isso até mesmo no banner desse blog, embora não seja as luvas, a vestimenta e o capacete que representa o ComMétis ali, mas sim o ATO.

 O problema é que muitos trabalhadores ao terem a sua disposição os equipamentos de proteção individual podem ser enganados por uma falsa sensação de segurança, que pode levar a comportamentos inseguros e gerar acidentes.

 É como só pela utilização de cinto de segurança, ter airbags e freios ABS no veículo garantisse que ao condutor que não haverá acidente automobilístico. E isso é um erro, afinal devemos reconhecer que o EPI, embora seja importantes para a proteção, não previnem nada.

 Ao longo de todos os meus anos de investigação de acidentes do trabalho pude constatar que uma falsa sensação de segurança podem ser associadas ao excesso de confiança de muitos trabalhadores quando esses acreditam que sua proteção depende exclusivamente dos EPI.

 Isso os leva a desconsiderar outros fatores que podem ser unir em uma cadeia de eventos que leve ao acidente de trabalho. Por exemplo, utilizar máscaras para evitar a inalação de um determinado químico ao abrir sua embalagem, mas fazê-lo em ambiente fechado, removendo a máscara após fechar o recipiente, ignorando o acumulo de gases/vapores no ar ambiente.

 Outro ponto é que os trabalhadores também podem se sentir excessivamente confortáveis com a sensação de proteção que os EPI lhe fornecem que acredita que são imunes a qualquer efeito prejudicial do perigo. Pense num soldador utilizando o visor e imaginando que ele também está o protegendo contra fumos metálicos.

 Também podemos associar essa hipótese com a primeira, por exemplo quando o trabalhador deixa de solicitar a manutenção de equipamentos contra quedas por acreditar que mesmo após muito tempo de uso “não estão tão velhos assim”.

 É importante lembrar que a segurança do trabalho é uma conjunção de muitos diferentes fatores, tal como na sua árvore de falhas você encontra o acidente na raiz, numa árvore de acertos você encontra a prevenção como resultado.

 Equipamentos de proteção individual são uma entre muitas outras medidas (avaliação de riscos, EPC, POP, treinamentos, e+) devendo ser utilizados em conjunto com as demais, associando cada uma delas à conscientização dos trabalhadores que devem sempre estar cientes dos riscos e dos limites de todo o sistema.

 É desse modo que EPI podem gerar acidentes e também como podemos evitar que isso aconteça.

 

 Imagem gerada pela DALL-E

Gostou desse conteúdo? 👍 Siga-nos! ✋

Compartilhe em suas redes sociais de preferência! 📢 

Comente suas impressões! ☝ Seu feedback, construtivo, é muito bem vindo e ajuda a todos a crescer. 

Fazendo isso você incentiva nossa equipe a continuar produzindo e aumenta a relevância da divulgação de  conteúdo prevencionista no cenário brasileiro. 💪😎


Referências:

 "A Safety and Health Practitioner's Guide to Personal Protective Equipment" - Guia elaborado pela Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho, que oferece informações sobre o uso, seleção e manutenção adequados dos EPIs.

"Manual de Segurança e Saúde do Trabalho" - Ministério do Trabalho e Emprego (Brasil)

"Occupational Safety and Health Administration (OSHA) Standards for Personal Protective Equipment (PPE)" - Departamento de Trabalho dos Estados Unidos

"Perceptions of safety culture and safety behavior: A comparison of construction workers in different working sectors" - Estudo publicado na revista Construction and Building Materials, que examina a relação entre a segurança do trabalho e a cultura de segurança no setor da construção.

"Personal Protective Equipment (PPE)" - Manual elaborado pelo Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil, que descreve as normas e recomendações para a seleção, uso e manutenção de EPIs.

"Personal Protective Equipment in the Workplace" - National Institute for Occupational Safety and Health (Estados Unidos)

"Personal Protective Equipment: Selection, Use and Maintenance" - Health and Safety Executive (Reino Unido)

"The psychology of personal protective equipment" - Artigo de pesquisa publicado na revista Safety Science, que explora como a confiança nos EPIs pode influenciar comportamentos inseguros no ambiente de trabalho.

"Wearing Personal Protective Equipment Correctly" - Centers for Disease Control and Prevention (Estados Unidos).

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O que faz o engenheiro de segurança do trabalho?

O que faz o enfermeiro do trabalho?