Onboarding e o SESMT

Onboarding e o SESMT


"Desenvolva pessoas, coloque-as em um lugar certo, dê-lhes as ferramentas certas e elas superarão o desempenho esperado." - Ron Kaufman


Contextualizando.

Era a primeira semana de Flávio naquele emprego dos seus sonhos, uma multinacional de produção de bens e serviços com presença em mais de 90% das casas brasileiras, num cargo cujo assunto ele dominava, dada sua experiencia de mais de 5 anos na profissão. 

 Tudo era novo e interessante, ele gosta de desafios, já no 1º dia suas habilidades foram colocadas sob prova, uma demanda urgente numa audiência com o MPT, o que não era problema, posto que ele já havia lidado com aquilo "mais de 1000 vezes".

 Na sexta feira seu coordenador, com quem mal havia conversado até então, pois não "não houve tempo" para onboarding, o chamou para um "feedback pontual" o que o empolgou, posto que exercitou seu melhor ao longo dessa primeira semana, já colocando a mão na massa.

 Foi quando ele foi surpreendido por uma avaliação super negativa, que listava a "inaptidão" de Flávio, pelo "sentimento" de que ele "não sabia o que estava fazendo" e "não era daquele jeito que a empresa funcionava". Pontuando que isso seria levado a diretoria. 

 Não era uma questão técnica, "não é o resultado que você gerou, ele está okay, mas é a forma, aqui trabalhamos de outra maneira", "você não seguiu as orientações da BP, não conhece nossas convenções verbais e não sabe para quem ligar e pedir informação".

Passaram-se 5 anos desde que Flávio entrou na empresa, agora ele sabia o tal "caminho das pedras", mas aquela impressão inicial, aquele primeiro feedback e reporte de "inaptidão" criou uma marca emocional e uma reputação perene na sua imagem naquela empresa, para sempre.


Conceito.

Multinacionais e outras empresas de grande porte utilizam o termo "onboarding" para fazer referência à integração de novos colaboradores, o que é interessante pois o termo nos remete a "subindo a bordo", embarcando, fazendo parte da tripulação.

Integração também é uma palavra interessante, pois remete a ideia de "passar a fazer parte de um grupo ou coletividade"; para ambos os casos o acolhimento e preparo daquela pessoa é o ponto central aqui.

O conceito de onboarding pode ser resumido como é o termo utilizado para o processo de integração de novos colaboradores em uma organização. O que, demonstraremos, é de muita importância, tanto para o trabalhador quanto para a empresa.

 Nele uma série de ações visam apresentar a cultura e os valores da organização, suas políticas internas, regras, procedimentos e padronizações, bem como outras informações relevantes que acelerem a adaptação do novo recurso no ambiente de trabalho.

Todo esse esforço tem a ver com familiarização com as tarefas e responsabilidades do cargo ocupado, naquela empresa, não com habilidades individuais e competências técnicas, mas sim com aclimatação ao contexto organizacional e com sinergia de equipe.


Importância.

O mundo corporativo é um jogo sem pausas, a roda tem que continuar girando (sempre!) e a produção (seja bens ou serviços) deve continuar funcionando não importa quem ocupe aquela determinada posição, prazos e metas são implacáveis.

Então, quanto antes o novo integrante da equipe estiver a par das informações mais relevantes e estratégicas possíveis, dentro do que a empresa entende como essencial para jogar o jogo com competitividade e diferencial tático, no seu mercado de atuação, melhor.

Mas, imagine que no meio de uma partida de futebol, um jogador é chamado para entrar em campo, mas vindo de fora do estádio, sem saber nada daquele jogo e portanto não tendo uma série de informações cruciais como o placar, quantos cartões foram dados, etc..

Ainda que saiba que seu papel é ser zagueiro ele não tem conhecimento prévio da formação tática (4-5-1, 4-3-3, 4-4-2), não sabe como se comportam os colegas, o juiz, os bandeirinhas, só conhece as regras gerais do esporte. Como serão seus resultados?

Claro, a depender da experiência, rapidamente pode se adaptar mas como serão suas primeiras jogadas? Imagine agora se não há uniformes e nem mesmo der para saber (não foi avisado) de que lado é o gol! Para quem passar a bola, quem marcar, para que lado chutar? 

Você pode ser o melhor artilheiro do mundo, mas sem estar a par da situação, integrado ao time, não haverá sinergia e para que haja levará tempo, muito tempo, eventualmente. Mas e até lá? Como avaliar essa aquisição? Resposta, não será possível ou justo!

Essa é uma das grandes importâncias da existência de uma integração organizada, segmentada, didática, esclarecedora e continuada em qualquer empresa. Ela permite que novos trabalhadores (craques ou não) entendam mais rapidamente o que e como fazer.

Não nos referimos a descrição do cargo que ocupa, mas sim seu papel no time, na interação com pessoas e interação com rotinas de trabalho, que aliás não nos remetem apenas a como ele produzirá resultados, mas também sobre a segurança com que os produz.

Isso porque além de todos os fatores apontados aqui há também todo um bioma de normativas e legislação prevencionistas, políticas e normas internas, procedimentos e medidas de segurança adotadas pela empresa que devem ser conhecidas e seguidas por ele.


A participação do SESMT, agregando valores.

Não conhecer os aspectos ligados a saúde e segurança do trabalho (SST) e suas aplicações, pelo GRO, naquela organização pode gerar impactos indesejados, tanto na fluidez e resultados da produção (gravidade menor) quanto na integridade física dele e outros colegas de trabalho (gravidade maior).

É exatamente neste ponto que o envolvimento do SESMT (interno ou externo) é fundamental no processo de onboarding, pois irá garantir que novos colaboradores conheçam seu papel (de protagonismo) no sistema de gerenciamento de riscos ocupacionais.

Quando falamos em SST é importante compreender que o processo de integração é contínuo, ou seja durante o onboarding a equipe de segurança do trabalho fornece informações e orientações gerais sobre riscos associados a atividade econômica, os procedimentos de segurança e dá continuidade a ela no local de trabalho.

Assim, riscos ocupacionais que atingem ou podem atingir toda a população daquele estabelecimento (ambiente de trabalho), bem como procedimentos de emergências, conforme o PAE implementado, são apresentados nas boas-vindas aos trabalhadores, conjuntamente.

E dando continuidade ao processo de integração é lá no setor dela, com sua respectiva área, gestores e colegas que será apresentado os riscos ocupacionais associados à atividade laboral ou ambiente de trabalho daquele departamento.

Tudo isso ajuda a conscientizar novos colaboradores sobre a importância da SST e a promover a cultura de segurança no ambiente corporativo, desde o início.

Com o fornecimento de informações gerais o trabalhador toma conhecimento de riscos e cenários de emergência identificados para aquela empresa (estabelecimento), com a integração específica ele já é iniciado no treinamento para ações de segurança específicas, para cumprir suas tarefas de eficiência e de forma segura.

Isso garante que estejam preparados para assumir seus postos e cumprir com as expectativas da contratação, permitindo melhor adaptação ao ambiente/posto de trabalho e cumpre parte da legislação prevencionista brasileira.

Outro ponto que traz robustez para a importância da participação do SESMT nos processos de integração é que como ele é um serviço especializado de caráter educativo, orientativo e fiscalizador  há interação contínua entre os seus membros prevencionistas e todos os níveis hierárquicos da empresa.

Em qualquer estrutura organizacional poucos setores tem a mesma capilaridade do SESMT, que atua em todos os níveis hierárquicos de uma organização, da base operacional (v.g. o "chão de fábrica") até a Alta direção, o que permite que eles possam atuar como influenciadores de boas práticas.

É natural para todo membro do SESMT seguir rigorosamente cada item preconizado pelas Normas Regulamentadoras (as NR), somos habituados a ter disciplina e vigilância, o que transportado para operação tem o potencial de tornar cada membro dessa equipe um arauto das boas práticas apresentadas nas integrações, um lembrete do que deve ser seguido naquele ambiente laboral.

Assim, processos de integração, que embora não tenham um prazo específico para durar, mas que segundo autores como Talya Bauer, a depender do cargo, função e da organização tem a duração recomendada por especialistas entre 90 e 180 dias ganham força através da participação do SESMT, que no final das contas sempre estará por ali.

Fique certo que essa postura irá permitir que, além de todos os efeitos positivos gerados no trabalhador e nos resultados a curto e longo prazos da empresa, você ainda começa a cumprir um dos mais fundamentais e primários itens da NR01: Informar os trabalhadores.


Gostou desse conteúdo? 👍 Siga-nos! ✋

Compartilhe em suas redes sociais de preferência! 📢 

Comente suas impressões! ☝ Seu feedback, construtivo, é muito bem vindo e ajuda a todos a crescer. 

Fazendo isso você incentiva nossa equipe a continuar produzindo e aumenta a relevância da divulgação de  conteúdo prevencionista no cenário brasileiro. 💪😎

 

Referências.

BAUER, T. N. et al. Newcomer adjustment during organizational socialization: A meta-analytic review of antecedents, outcomes, and methods. Journal of Applied Psychology, v. 92, n. 3, p. 707-721, 2007. doi: 10.1037/0021-9010.92.3.707.

_____, Talya. Onboarding New Employees: Maximizing Success. Society for Human Resource Management, 2010.

BGH, Business Group on Health. Onboarding and Retaining New Hires: A Benchmarking Study. 2016.

ROBINSON, Amy Hirsh. The New Leader’s Guide to Onboarding: How to Help New Hires Succeed in the First 90 Days. Harvard Business Review Press, 2010.

SAKS, A. M. et al. Socialization tactics and newcomer adjustment: A meta-analytic review and test of a model. Journal of Vocational Behavior, v. 70, n. 3, p. 413-446, 2007. doi: 10.1016/j.jvb.2006.12.004.









Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O que faz o engenheiro de segurança do trabalho?

O que faz o enfermeiro do trabalho?

EPI podem causar acidentes?